Havia
um andarilho que vestia calças sujas e remendadas, camisa rasgada, barba por
fazer, cabelos emaranhados e os pés descalços. O único objeto que possuía era
uma mala mais surrada que as próprias vestes.
Ele tinha seus momentos de reflexão
quando dizia que se possuísse recursos para uma vida digna, não seria como os
milionários que querem sempre mais. Estaria satisfeito com o mínimo para viver.
Os dias se passavam e ele insistia
na idéia. Um dia a fortuna aproximou-se dele e fez uma proposta: colocaria na
mala velha quantas moedas de ouro ela suportasse. Existia um porém: aquilo que
caísse no chão seria transformado em pó.
Imediatamente ele abriu a mala
jogando fora um pedaço de pão e um jornal velho que forrava os bancos para
dormir. Seus olhos estavam maravilhados. Segurava com desespero o fundo da mala
para que não se soltasse e para que suportasse cada vez mais e mais moedas.
Em um dado momento, a fortuna
interrompeu o fluxo das moedas alertando que a mala não suportaria mais peso,
mas o andarilho retrucou que não, que colocasse mais moedas, pois ele
suportaria com os próprios braços o que a mala não agüentasse. Foi feito
conforme sua vontade. A mala rompeu-se transformando em pó todas as moedas de
ouro.
Quando
iniciamos nossa vida física para reajustarmos a nossa consciência com a paz
somos parecidos com o andarilho, fazemos inúmeras promessas de sermos melhores,
de acertarmos nossos erros passados. Mas quando aqui chegamos nos maravilhamos
com os bens e prazeres materiais, nos abraçamos à mala da existência física que
vai sendo corroída pelo tempo, na tentativa de aproveitar cada segundo na Terra,
estocamos valores que não nos acompanharão do outro lado da vida.
Passamos
a viver num mundo em que os valores morais são colocados em segundo plano pela
necessidade exagerada de sucesso e bens materiais, onde o ter é mais importante
que o ser, onde o dar vem depois do receber e quando vem, elegemos,
primeiramente o eu ao invés do nós, perdemos a noção de solidariedade e
esquecemos a máxima que Jesus nos ensinou do “amarmo-nos uns aos outros”.
Vamos,
por nosso próprio livre-arbítrio, ignorando o nosso semelhante e nos tornamos
algumas vezes capazes de atos desleais e inferiores com o nosso próximo para
conquistar os gozos materiais. Vivemos num submundo, uma subvida!
Na questão 716 do LE nos ensinam os
espíritos amigos que: “A natureza traçou o limite de nossas necessidades em
nossa organização, mas o homem é insaciável e os vícios alteraram sua
constituição e ele criou para si necessidades que não são reais”.
No livro Caminho, verdade e vida, Emmanuel
nos aconselha: “Se teus desejos repousam nas aquisições factícias,
relativamente a situações passageiras ou a patrimônios fadados ao
apodrecimento, renova, enquanto é tempo, a visão espiritual, porque de nada
vale ganhar o mundo que te não pertence se perderes a ti mesmo, indefinidamente,
para a vida imortal.”
Não
estamos aqui condenando o uso dos bens materiais conquistados com o esforço e o
suor do trabalho digno, mas o abuso desses bens materiais, a preocupação
excessiva com mais e mais conquistas deixando de lado valores, princípios
essenciais, necessários a nossa evolução como espíritos.
Algumas
vezes chegamos a um determinado patamar de nossas vidas em que temos um emprego
bom, uma salário digno e capaz de manter com certo conforto nossa família, mas
ainda não estamos satisfeitos, queremos mais, queremos o carro do ano, a moto
do ano, etc. E a sociedade consumista ao nosso redor também nos cobra que
tenhamos mais.
Precisamos
entender que tudo o que possuímos nos é emprestado por Deus para que realizemos
a nossa evolução, sejam os bens materiais que deixaremos ao retornar à Pátria
Espiritual ou mesmo antes disso se não nos forem mais necessários; sejam as
pessoas que conosco compartilham a existência, elas também não nos pertecem e
um dia seguirão seus caminhos na evolução junto ou não a nós, o importante é
estarmos unidos através dos elos estabelecidos pelo amor, o amor que liberta,
que permite ao outro seguir o seu caminho; seja mesmo o nosso corpo físico que
deixaremos no túmulo, e de tudo isso prestaremos conta do bom ou mau uso que
fizemos.
Libertemo-nos
do apego excessivo aos bens e aos nossos entes queridos, abramos espaço ao
cumprimento de nossos deveres e compromissos. A eterna luta por mais e mais
conquistas nos aprisiona.
Chegamos ao
ponto de nos deixarmos aprisionar pelos bens materiais que nos tomam tempo
essencial, o telefone celular que a um simples toque interrompemos a atividade
que estávamos executando para atendê-lo, muitas vezes atividades de harmonia e
paz como uma leitura ou o diálogo com a família; nos deixamos aprisionar pelo
computador, pela internet que nos toma horas intermináveis que poderíamos
utilizar no diálogo carinhoso e instrutivo com os filhos, com o cônjuge, etc.
Quantas
oportunidades de trabalho, de ajuda ao próximo perdemos, dentro mesmo da nossa
casa, quando extremamente voltados às conquistas materiais não temos tempo para
o diálogo fraterno em casa, para a educação dos nossos filhos, para o carinho e
o afeto.
Nosso
maior tesouro não é material, é sutil. Família, amizade, amor, tempo, saúde,
trabalho, conhecimento, moral.
Jacob Melo no livro Pense sobre isso nos
diz: “O maior tesouro é aquele que não fica preso no peito, na mente ou em
qualquer estrutura egoística, mas o que vai aberto em benefício de todos."
Como nos ensinou Jesus no Cap. XXV item 6
do ESE não acumulemos valores que as traças roem e os ladrões roubam, mas
tesouros no céu, pois onde está o nosso tesouro aí estará o nosso coração.Valores
como a paciência, a piedade, a compaixão, a misericórdia, a solidariedade, o
perdão, resumidamente, a caridade e amor, elevam o nosso espírito e são somente
estes os necessários à nossa evolução.
Aproveitemos
esse novo ano que se inicia e não percamos mais tempo, façamos um esforço
sincero, a procura do melhor que Deus colocou dentro de cada um de nós, exercitemos
as verdadeiras virtudes, procurando ser. Mas o que significa ser? Quando
visitamos alguém necessitado, somos; quando utilizamos o diálogo e a
compreensão dentro de casa, somos; quando praticamos o perdão, a compreensão, a
tolerância, somos, somos filhos de Deus!
Procuremos viver nesse mundo com a consciência de que não somos desse
mundo, mas de um mundo onde os verdadeiros valores são os espirituais.
Encerramos essa conversa com um pequeno
diálogo ocorrido entre um certo turista quando encontrou-se com um famoso
mestre egípcio na Cidade do Cairo, surpreso ao ver que o ancião morava em um
quarto singelo onde as únicas mobílias eram uma mesa, uma cama de palha e um
banco.
Perguntou-lhe o turista: - Onde
estão seus móveis?
O sábio respondeu com outra
pergunta: - Onde estão os seus?
O turista respondeu-lhe: - Eu estou
aqui de passagem.
E com toda sua sapiência o sábio
concluiu: - Eu também!