O
Mestre nos ensinou que a prece é ponte de ligação com Deus e com a
espiritualidade amiga que nos guia e auxilia em nossa jornada. E nos ensinou
ainda como orar, como utilizarmos esta ponte de ligação.
No
item 4 deste capítulo os Benfeitores enumeram 4 características principais da
prece, as quais vamos analisar uma a uma.
A
primeira delas diz o seguinte: “Quando
orardes não vos coloquei em evidência, mas orai secretamente”.
Na
antiguidade, quando ainda primitivos, nós acreditávamos que para buscar Deus necessitávamos
de sacrifícios, oferendas, cultuávamos a aparência, após algum tempo de
amadurecimento espiritual nosso, Jesus veio nos ensinar a buscarmos Deus em
espírito e em verdade, na essência, dentro de cada um de nós.
Ele
nos ensinou que quando quiséssemos falar ao Pai, nos recolhêssemos a lugar
reservado, o nosso quarto, por exemplo e abríssemos nosso coração. Mas em nosso
nível evolutivo pouco avançado, ainda valorizamos as aparências e esquecemos de
cuidar do nosso interior, da verdadeira fé, somos como os sepulcros caiados,
demonstrando religiosidade por fora, mas sem nenhuma fé verdadeira, interior.
No Livro Nossos Filhos são
Espíritos, Hermínio Miranda nos diz: “O recurso da prece está sempre à nossa
disposição, em qualquer lugar, momento ou situação. Não precisa nem mesmo ser
verbalizada em voz alta, basta ser pensada.”
A
segunda característica nos diz: “Não
afeteis de muito orar, porque não é pela multiplicidade das palavras que sereis
atendido, mas pela sua sinceridade.”
Todos
nós aprendemos em nossa infância a recitar alguma prece que repetíamos todas as
noite em alguns casos. Também gostamos de preces bonitas, com palavras
comoventes, mas não é essa a verdadeira prece, a ponte de ligação que Jesus nos
ensinou.
Quando
nos atemos a palavras decoradas, bonitas, muitas vezes vamos repetindo sem
mesmo nos darmos conta do que estamos falando, apenas repetimos aquelas
palavras maquinalmente uma centena de vezes sem sentirmos realmente aquilo que
estamos falando.
A
prece é uma conversa com Deus ou com algum espírito amigo de nossa confiança e
quando conversamos com um Pai ou com alguém em quem confiamos, a conversa deve
ser franca, respeitosa, na qual abrimos nosso coração e as palavras devem vir
do coração. Por mais simples que sejam, serão sinceras, serão verdadeiras e
Deus ou os espírito amigo nos entenderá, porque ele conhece as nossas
necessidades e pode sentir a sinceridade de nosso coração.
A
terceira característica nos diz assim: “antes
de orar, se tendes alguma coisa contra alguém, perdoa-lhe, porque a prece não
será agradável a Deus, se não parte de um coração purificado de todo sentimento
contrário à caridade.”
A
prece sendo uma ligação com Deus, esta ligação não será possível se o nosso
telefone, o coração estiver ocupado de mágoas, ressentimentos, ódios, rancores.
Estaremos sempre dando sinal de ocupado.
É
preciso retirar de nosso coração todos esses sentimentos que só nos fazem mal,
que nos afastam da sintonia com os espíritos amigos, que nos fazem vibrar em
faixas de sintonia inferiores.
Jesus
sempre nos recordava a necessidade do perdão, não apenas como um bem para o
nosso próximo, aquele que nos ofendeu, mas como um bem maior a nós mesmos, o
perdão liberta-nos enquanto o rancor, a raiva o ódio nos prendem aquele que nos
magoou e nos sintonizam com aqueles que não querem o bem.
Talvez
não seja possível a reconciliação com o ofensor, pois este pode não estar
disposto a isso, mas nos cabe, mesmo assim perdoar-lhe, pois somente assim
sintonizaremos com os amigos espirituais. É preciso enxergar no ofensor alguém
que adoeceu espiritualmente e que precisa de ajuda. Se não podemos ajudá-los
diretamente, ajudemos incluindo-os em nossas preces para encontrem o caminho do
perdão, da paz e do bem.
A
quarta característica nos solicita a “orar
com humildade, e não com orgulho, examinar os vossos defeitos e não as vossas
qualidades, e se vos comparardes ao outros, procurai o que há de mal em vós.”
Temos
o hábito em nossas orações de pedir, antes de agradecer, e quando pedimos,
muitas vezes queremos barganhar com a espiritualidade, fazendo promessas as
mais absurdas.
Nossas
preces não serão atendidas porque prometemos isso ou aquilo a Deus ou aos
espíritos amigos. Ela será atendida pelo nosso merecimento, pela nossa vontade
de nos melhorarmos, e pela busca dessa melhoria em nós.
Deus
conhece nossas qualidades e defeitos, não é necessário que na prece fiquemos
nos exaltando, senhor me dê isso porque sou bom, porque sou caridoso, por que
ajudo isso aquilo. O que precisamos é reconhecer não apenas nossas qualidades,
mas principalmente os nossos defeitos, o que ainda temos a melhorar em nós e
buscarmos essa melhoria procurando lutar contra nossas limitações. Sejamos
humildes e peçamos em nossas preces aquilo de que realmente necessitamos, força
e coragem para vencer a nós mesmos.
E
respeitemos as limitações alheias, não apontemos em nossas preces ou em
qualquer momento de nossas vidas, os defeitos do nosso próximo. Respeitemos o
tempo de cada um e as diferenças entre nós, não joguemos em ombros alheios o
que nos cabe fazer.
No livro Espiritismo Nova Era,
Richard Simonnetti nos diz: “Não há oração mais prontamente atendida do que
aquela em que, cultivando a reflexão e reconhecendo nossas limitações, pedimos
ao Senhor, com todas as forças de nossa alma, ajude-nos a superá-las.”
“O plantonista do atendimento fraterno,
no centro espírita, conversava com o assistido:
- Então, meu amigo, como tem passado?
Melhorou o ânimo, superou as tensões?
O interpelado esboçou um sorriso:
- Bem, com os passes semanais e a
leitura do evangelho, sinto-me mais animado. Mas os problemas permanecem do
mesmo tamanho. Minha esposa, neurótica como sempre, atazana minha vida; os
filhos, indisciplinados, conturbam o lar; os subordinados, na atividade
profissional, são uns incompetentes, obrigando-me a redobrada vigilância. Tudo
isso me aborrece muito... Precisaria receber pelo menos três passes diários
para compensar os desgastes...
- Fardo pesado?...
- Nem me fale! Como dizia o filósofo, “o
inferno são os outros!”
- Tem orado?
- Sim, conforme sua recomendação, todas
as noites após a leitura do evangelho.
- E como faz?
- Dirijo-me a Jesus...
- Sim, mas o que pede?
- Que dê um jeito na minha vida,
tornando minha mulher menos impertinente, meus filhos mais obedientes, minha
saúde menos oscilante, meus subordinados mais aplicados...
- Bem, sugiro uma mudança. Peça as
bênçãos divinas para sua família, seus negócios, sua vida, sem detalhamentos. E
centralize a oração num ponto fundamental: peça a Deus que lhe dê o dom da
compreensão.
- Só isso?
- Sim.
- Será bem curta.
- Não é a extensão que faz a oração
funcionar. Deus sabe de nossas necessidades, deixe o coração falar.
Após algumas semanas o assistido
retornou, expressão alegre, feliz...
- Então, como está?
- Ótimo! A oração que me ensinou é joia!
A esposa está numa fase boa, os filhos mais obedientes, os funcionários da
empresa mais aplicados, a saúde melhor. Parece mágica! Mudou tudo!
O plantonista sorriu:
- Não há nenhuma mágica, meu amigo. O
que mudou foi a sua visão, a partir do momento em que deixou de pedir a Deus
que desse jeito naqueles que o cercam e pediu um jeito de enxergá-los melhor.”