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sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Jóias Devolvidas


Mensagem de Richard Simonetti do livro "Quem tem medo da morte?"
Existe uma palavra-chave para enfrentarmos com serenidade e equilibrio a morte de um ente querido: Submissão.

Ela exprime a disposição de aceitar o inevitável, considerando que, acima dos desejos humanos, prevalece a vontade serena de Deus, que nos oferece a experiência da morte em favor do aprimoramento de nossa vida...

A esse propósito, oportuno recordar antiga história oriental sobre um rabi, pregador religioso judeu que vivia muito feliz com sua virtuosa esposa e dois filhos adimiráveis, rapazes inteligentes e ativos, amorosos e disciplinados.

Por força de suas atividades, certa vez o rabi ausentou-se por vários dias, em longa viagem. Nesse interim, um grave acidente provocou a morte dos dois moços.

Podemos imaginar a dor daquela mãe!... Não obstante, era uma mulher forte. Apoiada na fé e na inabalável confiança em Deus, suportou valorosamente o impacto. Sua preocupação maior era o marido. Como transmitir a terrível notícia?!... Temia que uma comoção forte tivesse funestas consequencias, porquanto ele era portador de perigosa insuficiência cardíaca. Orou muito, implorando a Deus uma inspiração. O Senhor não a deixou sem resposta...

Passados alguns dias, o rabi retornou ao lar. Chegou à tarde, cansado, após longa viagem, mas muito feliz. Abraçou carinhosamente a esposa e foi logo perguntando pelos filhos...

Não se preocupe, meu querido. Eles virão depois. Vá banhar-se, enquanto preparo o lanche.

Pouco depois, sentados à mesa, permutavam comentários do cotidiano, naquele doce enlevo de cônjuges amorosos, após breve separação...

- E os meninos? Estaão demorando!...

- Deixe os filhos... Quero que você me ajude a resolver um grave problema...

- O que aconteceu? Notei que você está abatida!... Fale! Resolveremos juntos, com a ajuda de Deus!...

- Quando você viajou, um amigo nosso provurou-me e confiou à minha guarda duas jóias de incalculável valor. São extraordinariamente preciosas! Nunca vi nada igual! O problema é esse: ele vem buscá-las e não estou com disposição para efetuar a devolução.

- Que é isso mulher! Estou estranhando seu comportamento! Você nunca cultivou vaidades!...

- É que jamais vira jóias assim. São divinas, maravilhosas!

- Mas não lhe pertencem...

- Não consigo aceitar a perspectiva de perdê-las...

- Ninguém perde o que não possui. Retê-las equivaleria a roubo!

- Ajude-me!...

- Claro que o farei. Iremos juntos devolvê-las, hoje mesmo!

- Pois bem, meu querido, seja feita a sua vontade. O tesouro será devolvido. Na verdade isso já foi feito. As jóias eram nossos filhos. Deus, que no-los concedeu por empréstimo, à nossa guarda, veio buscá-los!

O rabi compreendeu a mensagem e, embora experimentando a angústia que aquela separação lhe impunha, superou reações mais fortes, passíveis de prejudicá-lo.

Marido e mulher abraçaram-se emocionados, misturando lágrimas que se derramavam por suas faces mansamente, sem burburinhos de revolta ou desespero e pronunciaram, em uníssono as palavras de Jó:

Deus deu, Deus tirou; bendito seja o seu nome...!

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