"A sua dor e a sua alegria não são minhas, assim como as minhas não são suas. Podemos (e devemos) nos preocupar com os outros, ser solidários e ter compaixão sem perder os nossos limites." David Kundtz - A Essencial Arte de Parar
É muito comum, quando vivemos e dividimos nossas vidas com alguém por muito tempo, que chegue um momento em que percebemos que perdemos o limite de onde termina o nosso eu e onde começa o outro.
Na ânsia de agradar e se fazer presente na vida do outro, na ânsia de nos sentirmos amados e aceitos pelo outro, deixamos para traz grande parte de nós, alguns anseios, desejos e sonhos e passamos a realizar aqueles que a principio pareciam comuns... mas que ao longo do tempo percebemos que não eram.
Conviver, compartilhar com o outro não significa absorvermos o eu do outro. Nunca nos sentiremos amados por completo dessa forma. É preciso recuperar o nosso eu, resgatar aquele ser que ficou trancado no sótão, seus desejos, seus sonhos, suas verdadeiras virtudes e seus defeitos encobertos por tanto tempo.
É preciso deixar esse eu vir a tona, é preciso fazer coisas que se tenha vontade de fazer e que nos tragam um verdadeiro sentido, uma felicidade, uma alegria de viver. Mas e o outro? vai continuar a nos amar da mesma forma e talvez até nos descubra ainda mais belos, ainda mais virtuosos. O outro vai se sentir liberto das amarras que por tanto tempo o prendemos e poderá igualmente fazer suas escolhas...
Conviver, compartilhar não é mergulhar no universo do outro, mas viver o meu universo permitindo que o outro faça parte dele ou apenas o contemple e permitir que o outro tenha seu próprio universo e escolhermos fazer parte dele ou apenas contemplá-lo.
Podemos e devemos nos alegrar com as conquistas e alegrias do outro e afagá-lo, consolá-lo, abraçá-lo e compreendê-lo em suas dores e dificuldades, mas essas alegrias e essas dores não são nossas, pertencem ao outro. Assim como podemos partilhar com o outro nossas alegrias, chorar nossas dores, mas elas serão unicamente nossas, parte da nossa bagagem única e intransferível.
Porque um dia seguiremos sós, nesta ou numa próxima dimensão, e o outro seguirá seu caminho. Como aceitar isso se fizermos do outro o nosso universo, a nossa bengala? Somos únicos, individuais, completos, necessitamos sim uns dos outros para a troca de aprendizado, para o amor e a evolução, mas precisamos sempre compreender a nossa individualidade. E isso não é egoísmo, é amor próprio. Jesus nos disse 'ama o teu próximo como a ti mesmo' e não mais do que a ti mesmo. Será que temos amado a nós mesmos?
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