Nova postagem no blog próximo sábado

sábado, 9 de fevereiro de 2013

Psicologia da Caridade


Exposição baseada no capítulo "Psicologia da Caridade" do Livro da Esperança psicografia de Chico Xavier, pelo espírito Emmanuel.

Neste capítulo do Livro da Esperança, Emmanuel faz uma análise da parábola do bom samaritano que está lá no ESSE cap. XV item 2 e para acompanharmos esta análise seria interessante relembrarmos a parábola contada por Jesus:

Um homem, que descia de Jerusalém para Jericó, caiu em poder de ladrões, que o despojaram, cobriram de ferimentos e se foram, deixando-o semimorto. - Aconteceu em seguida que um sacerdote, descendo pelo mesmo caminho, o viu e passou adiante. -Um levita, que também veio àquele lugar, tendo-o observado, passou igualmente adiante. - Mas, um samaritano que viajava, chegando ao lugar onde jazia aquele homem e tendo-o visto, foi tocado de compaixão. - Aproximou-se dele, deitou-lhe óleo e vinho nas feridas e as pensou; depois, pondo-o no seu cavalo, levou-o a uma hospedaria e cuidou dele. - No dia seguinte tirou dois denários e os deu ao hospedeiro, dizendo: Trata muito bem deste homem e tudo o que despenderes a mais, eu te pagarei quando regressar.

Acabamos de passar por uma época de Natal, quando nossos corações ficam mais sensíveis a dor do próximo, nos preocupamos mais com a dor do outro, com campanhas para que todos passem um natal sem fome, sem miséria... Mas será que os necessitados só precisam de nosso auxílio nessa época. Não sentirão eles fome e frio o ano inteiro? Não terão necessidade da palavra amiga, do incentivo, da nossa atenção o ano inteiro?

Quando ocorrem tragédias que nos chocam, como terremotos, enchentes, tsunamis, ficamos todos comovidos, e procuramos de certa forma auxiliar aqueles que estão passando por momentos difíceis, a nossa solidariedade desperta. Mas serão necessárias as tragédias para que a nossa solidariedade desperte? Não enxergamos o necessitado diariamente ao nosso lado? No sinal, no hospital, no asilo, no amigo enfermo, no idoso carente, na esposa ou esposo estressados? Não necessitam todos estes de nosso auxilio diariamente?

Mas nós continuamos agindo como o Levita e o Sacerdote, passamos ao lado daquele que sofre e fingimos não enxergar, para não nos perturbarmos, para mantermos a nossa paz, fingimos não ver o enfermo necessitado da nossa visita, o filho perturbado no lar necessitando do nosso conselho, até que a situação se torne insustentável...

O Samaritano, que não era muito bem visto na época, pois não seguia os costumes religiosos vigentes, auxiliou sem perguntar a quem e sem fazer alarde. E nós? Como temos agido quando auxiliamos, será que não gostamos de aparecer naquela foto para mostrar que estamos fazendo o bem? Será que o estamos fazendo desinteressadamente ou buscamos o aplauso alheio para as nossas boas ações? Não estaremos barganhando com a nossa caridade?

O Samaritano nada perguntou ao homem que auxiliou, não quis saber por que ele encontrava-se naquela situação, nem quais eram seus antecedentes, suas ações, seus credos, ou o que seja, apenas estendeu a mão e auxiliou.

E nós o que costumamos fazer aos caídos que levantamos, normalmente apontamos seus erros e até utilizamos aquela velha frase: “eu avisei, eu sabia que isso iria acontecer”. Auxiliamos sim, mas humilhamos aquele a quem estendemos a mão, como se nunca errássemos, como se muitas vezes não fossemos também nós os necessitados de uma mão amiga a nos levantar no caminho.

No livro Saúde Mental nos aconselha o Dr. Inácio Ferreira: “Amenizemos o peso do fardo sobre os ombros alheios sem a menor censura à invigilância de quem o transporta, porque, também para nós, chegará o momento em que, mesmo bem-intencionada, a palavra de recriminação de quem auxilia será como receber um tapa no rosto.”

O Samaritano não deu apenas o dinheiro ao necessitado, ele deu também de si, de seu cuidado, de seu carinho, tratando pessoalmente de seus machucados. Não apenas a caridade material se faz necessária em nossas vidas. Ela é importante sim, aplacar a fome, a necessidade do outro é fundamental, mas esse prato de comida pode vir acompanhado de um sorriso, de uma conversa amiga. A roupa que doamos, que não nos interessa mais pode vir com o cuidado da limpeza, do pregar aquele botão ou fazer aquele remendo, para que o outro o receba em condições.

E muitas vezes pode ser que o necessitado ao nosso redor o seja muito mais de amor, de uma palavra, de um conselho e até de uma prece. É a caridade moral, que nada nos custa, a não ser nossa boa vontade, é quando damos de nós mesmos.

Hammed no Livro Prazeres da Alma nos diz que “Um olhar atencioso e um abraço carinhoso curam mais do que inúmeras caixas de remédio.”

Mas para praticar essa caridade se faz necessário que estejamos atentos, atentos aqueles que estão ao nosso redor, porque muitas vezes na correria do dia-a-dia não enxergamos as chagas morais que o companheiro traz em seu coração, as dores que traz na alma. E que poderíamos auxiliar se deixássemos de olhar 24 horas por dia para o nosso próprio umbigo e olhássemos para o lado por alguns minutos.

Quando voltarmos para o plano espiritual e revermos nossas vidas, vamos ficar estarrecidos de quantas vezes a dor do semelhante nos solicitou a presença de maneira discreta, mas não percebemos...

O Samaritano auxiliou e passou, não perguntou quem era o seu próximo, não esperou-lhe retribuição nem gratidão. Não era necessário. A verdadeira caridade auxilia e segue. Sem se iludir sobre si mesmo, acreditando-se a melhor criatura da terra, consciente de que somos todos necessitados e imperfeitos e que aqui estamos para acudirmo-nos uns aos outros. Para fazermos pelos outros aquilo que quereríamos que os outros fizessem por nós, tal como está lá no ESSE cap. XI item 4.

Para encerrarmos trouxemos uma pequena história do Livro Atravessando a Rua de Richard Sominetti que nos conta assim:
Argemiro deixou o centro ao final da reunião vespertina de domingo. Era um dos expositores, especializado em temas evangélicos, exaltando, com frequência, os valores da fraternidade e do trabalho em benefício do próximo.
De retorno ao se lar, em edifício de apartamentos, veio-lhe a mente a lembrança de um vizinho, rapaz solitário e introvertido que frequentava, eventualmente, as reuniões de assistência. Precisava de ajuda. Não estava bem emocionalmente. Desajustado, certamente sofria a influência de obsessores desencarnados. Poderia visitá-lo. Olhou o relógio: dezesseis horas. Muito tarde! Estava cansado e havia um filme interessante na televisão...
            Entrando no prédio, passou diante do apartamento do rapaz. A porta estava entreaberta. E se batesse, só para um alô? Argemiro relutava. Queria repousar. Além do mais, sairia à noite. O papo ligeiro acabaria estendendo-se, atravessando seu passeio. Ficaria para outro dia...
            Entrou em seu próprio apartamento. Ligou a televisão, retirou um refrigerante da geladeira e, refestelando-se no sofá, suspirou feliz... Ah! As delícias de um fim de domingo tranquilo, sem nenhuma preocupação!...
            Entretanto, o vizinho não lhe saia da cabeça: bem que poderia procurá-lo, fazendo-o sentir que havia alguém que se interessava por seu bem-estar. O moço precisava de amigos...
            “Não e não!” – afirmou categórico para si mesmo – “Há algum obsessor querendo perturbar meu repouso! Mas não conseguirá!”
            E mergulhou no programa de televisão, sorvendo, preguiçoso, a bebida. O sono chegou de mansinho. Reclinou-se e dormiu. Teve sonhos confusos, com cenas de ambulância e viaturas de policiais trafegando ao som de estridentes sirenes. Despertou, inquieto, às dezenove horas. Banhou-se, tomou leve refeição e saiu.
            À porta do prédio percebeu um ajuntamento de pessoas. Viatura policial e ambulância estavam de saída. Levavam um cadáver. Seu vizinho suicidara-se exatamente naquele espaço de tempo em que Argemiro, postado diante da televisão, resistia ao impulso de visitá-lo.
            A intenção do suicídio dispara alarmes no plano espiritual, mobilizando familiares, amigos e orientadores espirituais que, com recursos ao seu alcance, tentam demover seus tutelados do gesto desesperado...
            A grande dificuldade dos benfeitores do além é que dependem de instrumentos de boa vontade entre os homens. E estes nem sempre estão dispostos a atender seus apelos. Há a televisão, os compromissos sociais, os lazeres intransferíveis, a insuperável vocação para o repouso.

Um comentário:

Unknown disse...

Belíssima exposição Fernanda!
Realmente estamos muito loge de praticar a caridade verdadeira.
Ainda primamos pela lei do menor esforço e passamos também ao largo das necessidades de nossos irmãos.
É preciso que prestemos mais atenção ao que acontece a nossa volta, porque Deus nos espera, mas nós precisamos quere chegar aos seus braços e o caminho é o amor que se revela através da fraternidade sincera.
Obrigado mais uma vez pela partilha! Abraços!