Exposição baseada no texto: "Nós e o Mundo" do Livro da Esperança de Emmanuel psicografia de Chico Xavier.
Clara,
uma jovem senhora, trabalhadora do atendimento fraterno, atendia desesperada
senhora que chorava copiosamente:
- Estou desesperada! Meu filho
morreu num estúpido acidente! É tão grande a minha dor que tenho vontade de
morrer! Por que meu Deus? Por que? Uma vida interrompida cruelmente! Mal
começara a existência!
- Dona Arminda, não se entregue ao
desalento... Nada acontece por acaso. Razões ponderáveis, inacessíveis ao nosso
entendimento determinaram que o menino regressasse ao plano espiritual.
- Não me conformo! Não aceito
perdê-lo tão cedo. Apenas treze anos! Era praticamente uma criança!...
- É preciso corrigir nossos
raciocínios. A senhora não o perdeu. Ele apenas transferiu-se de plano...
A visitante torna a chorar e Clara
tenta animá-la:
- Tem outros filhos?
- Sim, mais três...
- E o marido?
- Sofre muito. Mas é mais forte, vem
reagindo. Eu é que não me conformo...
- É preciso seguir em frente tornar
à normalidade. A vida continua. Sua família precisa de seu bom ânimo. Coragem!
A tempestade passará!
- Não consigo! Só quem perdeu um
filho sabe o quanto isso dói. Perdoe-me se lhe pareço indelicada, mas é fácil
falar em coragem, serenidade, bom ânimo, disposição de lutar quando tudo corre
bem...
- A senhora tem razão. Nossa crença
é tranquila quando nos demoramos entre flores. Conservá-la em meio aos espinhos
é um teste terrível. Sei bem o que isso significa, porquanto passei por
experiência semelhante à sua... meu esposo e dois filhos desencarnaram há dois
anos num desastre de avião.
Muitos de nós já devemos ter passado
pelo atendimento fraterno em nossa casa espírita, atendimento que normalmente é
realizado por uma senhora de aparência tranquila, serena e fala doce, suave.
Que procura nos ouvir e nos consolar. Elas possuem bastante conhecimento da
doutrina, mas possuem também o conhecimento da experiência.
Assim como qualquer um de nós, elas
sofrem, choram, vivem momentos de dor e de angústia. Se assim não o fossem,
como poderiam nos compreender e aconselhar? Apenas o conhecimento teórico da
doutrina não seria suficiente, é necessário vivenciar para conhecer a dor do
outro.
Imaginemos um cirurgião que
conhecesse toda a teoria, mas que nunca houvesse pego em um bisturi, nos
submeteríamos a uma cirurgia com ele? Ou um professor de dança que conhecesse a
teoria, mas nunca houvesse ensaiado um passo sequer, será que aprenderíamos
algo com ele?
O conhecimento é importante, mas a
experiência é fundamental.
Muitos acreditam que a melhor forma
de viver uma vida serena, tranquila, de paz e espiritualidade, seria
isolando-se do mundo, afastando-se das coisas ditas mundanas, vivendo uma vida
de isolamento em busca da espiritualidade.
Emmanuel nesse capítulo nos diz o
seguinte:
“Fugir
de trabalhar e sofrer no mundo, a título de resguardar a virtude, é abraçar o
egoísmo mascarado de santidade.”
Todos somos seres sociais,
precisamos viver em sociedade, a lei de sociedade é uma lei natural, e está no
livro dos espíritos:
Questão
766 – A vida social é uma obrigação natural?
Certamente.
Deus fez o homem para viver em sociedade. Deus deu-lhe a palavra e todas as
demais faculdades necessárias ao relacionamento.
Questão 768 – O Homem, ao procurar
viver em sociedade, apenas obedece a um sentimento pessoal, ou há um objetivo
providencial mais geral?
O
homem deve progredir, mas não pode fazer isso sozinho porque não dispõe de
todas as faculdades; eis porque precisa se relacionar com outros homens. No
isolamento se embrutece e se enfraquece.
Estamos aqui encarnados com o
objetivo primeiro de evoluirmos, de progredirmos moralmente, adquirindo
virtudes morais ao nosso espírito imortal. Mas para isso necessitamos uns dos
outros, necessitamos conviver com o outro, aprender com o outro.
Somente na convivência é que
aprendemos a desenvolver nossas virtudes: como desenvolver a paciência e a
compreensão se não tivermos quem as teste? Como desenvolver o afeto e o carinho
se não tivermos a quem dedicá-los? Como desenvolver a caridade e o amor ao
próximo sem o próximo?
No
ESE Cap. XVII item 10 nos diz um espírito protetor: “A perfeição está
inteiramente, como disse o Cristo, na prática da caridade absoluta; mas os deveres
de caridade se estendem a todas as posições sociais, desde a menor até a maior.
O homem que vivesse só, não teria caridade a exercer; não é senão no contato
com os semelhantes, nas lutas mais penosas, que disso encontra ocasião. Aquele,
pois, que se isola, priva-se voluntariamente do mais poderoso meio de
perfeição; não tendo que pensar senão em si, sua vida é a de um egoísta.”
A primeira lição que temos da
vida em sociedade começa dentro do lar, entre aqueles que conosco possuem os
laços sanguíneos, aprendemos as primeiras lições de como conviver com os que são
diferentes de nós, que apesar da semelhança física, possuem diferenças de
personalidade, de ideias, de valores que cada um traz em sua bagagem
espiritual.
Porém, algumas vezes, nos isolamos
no cadinho doméstico, nossas preocupações, nossos cuidados, nossa caridade,
nosso amor ao próximo, fica restrito ao círculo doméstico. É a função do lar,
através da necessidade de convivência, nos estimular aos bons sentimentos. E
assim nos fechamos novamente em nosso egoísmo, atendendo apenas aqueles que
conosco convivem de forma mais próxima.
Necessário se faz estendermos o amor
ao próximo para além das paredes e dos muros de nossas casas, com os
necessitados mais próximos. Necessitados que podem ser do nosso amparo
material, mas também do amparo moral, da palavra amiga, do conselho fraterno.
Poucos são os que se dispõe a sair de suas casas, a dispor de seu tempo para
fazer uma visita a um asilo, a uma creche, a um enfermo. Paremos para pensar se
temos disposto bem o nosso tempo, se sabemos dividi-lo entre o lazer e o
descanso tão necessário, mas se estamos dispondo também de um tempo para
fazermos a nossa parte para melhorarmos o mundo em que vivemos.
No
livro Boas Idéias nos diz Richard Simonetti: “O amor que inspira o anseio de
uma vida em comum, onde os filhos apresentam-se como frutos abençoados de
afetividade, somente se manterá em plenitude, sem enganos, sem temores, sem
desequilíbrios, quando suas raízes se estenderem além das paredes estreitas do
lar.”
Reclamamos dos males do mundo, da
violência, do predomínio do mal sobre o bem, mas o que temos feito para
melhorar o mundo em que vivemos?
Assim como qualquer ambiente é
influenciado pelas energias daqueles que o habitam, o mundo em que vivemos é o
resultado do que nós que o habitamos fazemos dele. O mundo não é mal, o mundo
não está perdido como costumamos dizer. O mal que vemos no mundo vem de nós
mesmos, de nossa contribuição, de nossas energias, nossos pensamentos.
O que temos feito para melhorarmos o
mundo em que vivemos? O que temos feitos pelo nosso lar, pela nossa vizinhança,
pelo nosso bairro, pelo nosso próximo? Não devemos cruzar os braços e esperar
que os outros façam aquilo que nos é possível fazer... apenas a nossa parte!
Emmanuel
nos faz a seguinte colocação com a qual encerramos nossa exposição e deixamos
como reflexão:
“Doemos, pois ao mundo ainda que
seja o mínimo do máximo que recebemos dele, compreendendo e servindo aos
outros, sem atribuir ao mundo os erros e desajustes que estão em nós.”
2 comentários:
Linda exposição Fernanda!
É bem verdade que atualmente isto acontece. Estamos nos isolando em nosso recinto doméstico, literalmente. Vivendo somente para aqueles que convivem conosco em baixo do mesmo teto. Não estamos dando chance nem mesmo para os amigos, que diria então para praticar a caridade fora das paredes de nossas casas. Desse modo estamos apenas existindo e deixando de viver.
Obrigado pelo puxão de orelhas!
Abraço fraterno!
Terra: Ferramenta, alavanca, trampolim para aspirantes como nós que estamos de olho na Regeneração. Aliás "Quem são os regenerados?" Pergunta interessante de Hammed. Resposta: Todos os perfectíveis que compreenderam à luz do sermão da montanha, que é possível, sim, incorporar 'esse' perfil. Estava lá... Conferi tua exposição. Mais uma vez obrigado e um abraço, Fernanda. Claudio.
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