Transcrevo reportagem da RIE de novembro de 2007 de autoria de Adilton Pugliese:
Ela nascera em 1926 e havia terminado a escola secundária na primavera de 1942, O seu sonho era obter treinamento como técnica de laboratório e, em seguida, ingressar na faculdade de medicina. Nascera e morara em Zurique, na Suiça. Seu pai, contudo, desejava que ela fosse secretaria-guarda livros. Mas outro seria o destino da Dra. Elisabeth Kübler-Ross, a famosa autora de On Death and Dying (Sobre a morte e o morrer) best-seller publicado em 1970, e de outras obras a exemplo de Morte - Estágio final da evolução, O Túnel e a Luz e Viver até dizer adeus.
Em seu livro autobiográfico, A roda da vida, a Dra. Elisabeth narra emocionante experiência quando logo após o término da Segunda Guerra Mundial na Europa, em 07 de maio de 1945 se ditigiu a Varsóvia, na Polônia . Antes de sair de Estocolmo, trabalhou cortando feno e tirando leite das vacas de um fazendeiro, a fim de obter o dinheiro para a viagem.
Na estadia na Polônia visita o campo de concentração de Maidanek, "uma das tristemente famosas usinas de morte de Adolf Hitler. Ali, onde mais de trezentas mil pessoas haviam morrido, uma sua amiga polonesatambém perdera o marido e doze dos seus treze filhos". Tudo era vestígio de um sinistro passado.
Visitando os alojamentos, meditava "como a vida podia ser tão cruel?". Ela "queria compreender como seres humanos podem agir de forma tão criminos com relação a outros seres humanos , em especial crianças inocentes".
De repente, os seus pensamentos foram interrompidos por uma voz calma e segura de uma jovem chamada Golda:
- "Você também seria capaz de fazer isso, se tivesse sido criada na Alemanha nazista". Elisabeth reage, indignada, declarando que era uma pacifista e que tinha sido criada por uma boa família num país pacífico.
Golda, contudo, justifica a sua opinião. Nascida na Alemanha, aos doze anos a Gestapo levara o seu pai e ela nunca mais o viu. Depois toda a família foi deportada para Maidanek e forçada a entrar numa câmara de gás. Ela, Golda, tinha sido a última pessoa que os nazistas empurravam para fechar a porta do crematório. Por um milagre ou intervenção divina a porta não se fechava com ela lá dentro. A câmara estava cheia demais. Então os carrascos a puxaram e a lançaram para fora, ao ar livre. Como já estava na lista da morte, julgaram que estivesse morta e nunca mais chamaram seu nome. A sua vida foi poupada.
Mais tarde, ao fim da guerra, quando saiu de Maidanek, estava aflita pela "raiva e amargura que tomaram conta dela. Era inconcebível passar o resto de sua preciosa vida destilando ódio". Considerou, então, que "a única maneira de encontrar a paz é deixar que o passado fique para trás" e que se usasse a sua vida, que foi poupada, para plantar as sementes do ódio, ela não seria muito diferente de Hitler.
Golda transmite a Elisabeth o seu novo ânimo: "- Se eu puder mudar a vida de uma pessoa transformando seu ódio e seu desejo de vingança em amor e comiseração, mereci sobreviver".
A futura psiquiatra Kübler-Ross , que anos depois mudaria a percepção da morte, sente-se envolvida por aquela disposição de mudança e idealiza ali que o objetivo de sua vida seria procurar garantir que as gerações futuras não produzissem um novo Hitler. Antes de deixar a Polônia, contudo, viveria a marcante experiência fo prognóstico de Golda.
Tentando retornar à Suíça, ocorrem momentos perigosos e afligentes, caminhando por estradas de cascalho, suando de febre e rezando muito. A fome a domina e a enfraquece. De repente, tem a sensação de ver uma menina passando numa bicicleta e comendo um sanduíche. Por um instante considerou a possibilidade de roubar aquele sanduiche arrancando-o da mão da criança. Nesse impasse, no seu delírio, vê a imagem de Golda dizendo-lhe: "-Cuidado, há um Hitler dentro de nós!". Então se assusta, controla-se e compreende. A possibilidade era correta, só depende das circunstâncias, reflete. Porteriormente é conduzida a um hospital alemão "por uma mulher que estava a catar lenha" e, reconhecida como de origem suíça, é atendida e medicada.
Anos depois, após as suas famosas experiências trabalhando com pacientes terminais, promovendo concorridos seminários sobre a morte e o processo de morrer, na Universidade de Chicago, e mantendo os surpreendentes diálogos com os que reviveram depois da morte, ela escreveu, juntamente com o Dr. David Kessler, de Los Angeles, Califórnia, o livro Os Segredos da Vida, onde apresentam quatorze lições "combinando histórias comoventes com uma lição profunda".
Em sua mensagem de abertura do livro a Dra. Elisabeth, que desencarnou em 24 de agosto de 2004, aos 78 anos, considera que durante a vida todos temos lições a aprender, sobretudo junto àqueles que estão no limiar da morte, declarando que após as lições que aprendeu sobre a morte e o morrer estava aprendendo as "últimas lições", aquelas que contém as verdades essenciais a respeito da vida. Por isso, enfatiza que quis escrever nesse livro sobre a vida e o viver.
Lembrando-se, certamente, da jovem alemã Golda, afirma: "Cada um de nós tem dentro de si um Gandhi e um Hitler. O Gandhi corresponde ao que há de melhor em nós, nosso lado capaz de maiuor compaixão, enquanto o Hitler corresponde aos nossos aspectos negativos e mesquinhos. Nosso desafio é descobrir e desenvolver o que há de melhor em nós e nos outros. Aprender as lições capazes de curar nosso espírito - nossa alma - e de trazer à tona a pessoa que realmente somos".
Jesus, em momento comovente com os discipulos, sentenciou:"O Reino de Deus está dentro de vós".
Allan Kardec, em O Livro dos Espíritos, na questão 605, dialoga com as Entidades Codificadoras do Espiritismo, indagando-lhe se o homem não possuiria duas almas: a alma animal e a alma espírita, o que justificaria, assim, serem os bons e os maus instintos do homem efeito da prodominância de uma ou outra dessas almas.
O Mestre da Doutrina Espírita obtém como resposta que não, o homem não tem duas almas. Dupla no homem só é a natureza. Há nele a natureza animal e a natureza espiritual, dizem-lhe os espíritos. E na pergunta 742 irá se aprofundar na questão, buscando, como sempre, novas informações, novos contornos e ilações que lhe permitam desvendar o enigma dos implusos e transtornos humanos. Indaga, então: "- Que é o que impele o homem à guerra?". E os Benfeitores respondem: "- Predominância da natureza animal sobre a natureza espiritual e transbordamento das paixões".
Prosseguindo os seus revolucionários estudos psicológicos, questiona no item 743: "- Da face da Terra, algum dia, a guerra desaparecerá?". E naqueles dias primordiais da Codificação Espírita o médium escreve a resposta dos Imortais: "- Sim, quando os homens compreenderem a justiça e praticarem a lei de Deus. Nessa época, todos os povos serão irmãos".
"Vou dançar em todas as galáxias", teria dito a Dra. Kübler-Ross, ao perceberm no Arizona, que se aproximava o momento do retorno ao Mundo Maior. Depois de uma vida de exemplo e estudo, provavelmente experimenta momentos de encantamento, após a morte, o morrer e o sobreviver, vivendo, ao lado do Mahatma Gandhi e de outros que superaram os impulsos da matéria, a ventura dos justos e dos que dedicaram a sua vida em benefício da humanidade.
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